Termos de tecnologia que usamos de forma incorreta
Na era digital, a linguagem tecnológica deixou de ser exclusiva dos especialistas e passou a fazer parte do vocabulário cotidiano.
Palavras como “Wi-Fi” e “inteligência artificial” são usadas com tanta frequência que muitas vezes nem percebemos quando aplicamos esses termos de forma equivocada.
Apesar de, na maioria das vezes, a mensagem ser compreendida pelo contexto, esse uso incorreto pode gerar confusões, principalmente quando o objetivo é entender melhor o funcionamento dos dispositivos ou explicar soluções para outras pessoas.
Compreender corretamente os significados dos termos técnicos não é apenas uma questão de precisão linguística — é também um passo essencial para uma relação mais consciente e eficaz com a tecnologia.
Seja na hora de comprar um gadget, configurar uma rede doméstica ou otimizar o uso de assistentes virtuais, usar as palavras certas pode evitar mal-entendidos e facilitar decisões mais informadas.
Neste artigo, vamos explorar os erros mais comuns na utilização de jargões tecnológicos, explicar suas origens e oferecer uma visão clara e atualizada do que realmente significam.
Prepare-se para atualizar mais um pouco seu vocabulário digital e compartilhar esse conhecimento com mais segurança e clareza.
Alexa não é o aparelho
Entenda a diferença entre Alexa, Echo e outros dispositivos compatíveis
No Brasil, é muito comum ouvir alguém apontar para um dispositivo da Amazon e dizer: “essa é a Alexa”. Apesar de popular, essa afirmação é tecnicamente incorreta.
Alexa é o assistente virtual com inteligência artificial da Amazon, não o dispositivo físico em si.
O aparelho em que Alexa “vive” costuma ser um Amazon Echo, que pode ter formatos e funções diferentes, como o Echo Dot (modelo compacto), Echo Show (com tela) ou Echo Studio (focado em áudio premium).
Esses dispositivos são alto-falantes inteligentes com microfones embutidos, conectados à internet, e foram projetados para funcionar como interfaces físicas da Alexa. Ou seja, quando você conversa com o Echo, quem responde é a Alexa.
Para complicar, existem outros dispositivos com Alexa integrada, como fones de ouvido, TVs, soundbars, interruptores inteligentes e até carros.
Todos eles podem executar comandos de voz por meio da Alexa, desde que estejam conectados à internet e ao app Alexa no celular. Portanto, você pode “falar com a Alexa” sem ter um Echo, desde que o produto seja compatível.
Essa confusão é parecida com dizer que “Siri” é o iPhone ou que “Google” é o celular Android. O assistente é o software (Alexa), enquanto os aparelhos (Echo, Fire TV, etc.) são apenas meios de interação com essa IA.
Saber essa diferença ajuda a fazer compras mais conscientes, escolher os melhores dispositivos para cada ambiente e entender melhor os recursos da casa inteligente.
Ao procurar por um novo Echo, pense no uso que você deseja: som potente? Tela para vídeo chamadas? Ou apenas um modelo discreto para o quarto? A Alexa será a mesma — o que muda é a forma como você interage com ela.
Hacker, Hacking e Hackeado
A palavra hacker costuma evocar imagens cinematográficas: salas escuras, códigos piscando em múltiplas telas, e figuras misteriosas como Neo, de Matrix.
No entanto, essa representação popular é imprecisa — e, muitas vezes, injusta. Na prática, o termo é amplamente mal interpretado e frequentemente associado a crimes digitais, quando na verdade sua origem é muito mais técnica e até ética.
Hackear não significa apenas descobrir senhas fracas como “123456” ou manipular pessoas para que revelem dados pessoais. Esses atos envolvem engenharia social, golpes ou fraudes digitais, que são práticas criminosas — mas não necessariamente hacking.
Chamá-los de hackers é como confundir um ladrão de carros com um engenheiro automotivo.
O verdadeiro hacker é um especialista que domina profundamente sistemas computacionais, analisando vulnerabilidades de segurança com precisão técnica. Profissionais de segurança digital, como pentesters (testadores de penetração), são hackers éticos que ajudam empresas a corrigir falhas antes que elas sejam exploradas por criminosos.
Portanto, usar corretamente os termos “hacker”, “hacking” e “hackeado” é essencial para diferenciar entre criminosos virtuais e profissionais legítimos que trabalham para manter os sistemas mais seguros e confiáveis.
Wi-Fi: confundido com internet
No cotidiano digital, é comum ouvirmos frases como “o Wi-Fi está lento”, principalmente em ambientes como hotéis, aeroportos ou cafés.
Mas, tecnicamente, essa afirmação nem sempre está correta.
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- Wi-Fi é o nome de uma tecnologia de rede sem fio que conecta dispositivos — como celulares, notebooks e smart TVs — a um ponto de acesso local, como um roteador.
- Já a internet é uma rede global de dados. Ou seja, Wi-Fi e internet não são sinônimos.
Embora o Wi-Fi seja o meio pelo qual muitos acessam a internet, ele não é a internet em si. Ele funciona como uma ponte entre seu dispositivo e o modem ou gateway conectado à web. Isso significa que é possível ter um Wi-Fi funcional, mas sem acesso à internet — e vice-versa.
Quando você diz que o Wi-Fi está lento, pode estar se referindo a problemas locais, como interferência, distância do roteador ou sobrecarga de dispositivos conectados.
Um roteador antigo ou incompatível com padrões modernos, como o Wi-Fi 6 ou Wi-Fi 7, pode limitar sua experiência online. Mesmo pagando por uma internet veloz, seu desempenho pode ser prejudicado. Atualizar o roteador ou reposicioná-lo estrategicamente pode melhorar significativamente a qualidade da conexão em casa.
Inteligência Artificial (IA): uso exagerado
O termo inteligência artificial está em todos os lugares — de programas de TV a discursos corporativos — especialmente com a popularização de ferramentas como o ChatGPT, geradores de imagem e vídeos deepfake. Muitas vezes, porém, o conceito é usado de forma inflada, como se vivêssemos em um mundo dominado por máquinas conscientes.
A realidade é mais técnica e menos apocalíptica: IA não é mágica, nem consciente — é cálculo em grande escala.
Desde a década de 1950, quando Alan Turing propôs a ideia de uma máquina capaz de “pensar”, a IA evolui como um campo que busca simular aspectos da inteligência humana por meio de algoritmos.
Se você já usou filtros em redes sociais, jogou videogames com oponentes virtuais ou pediu ajuda a um assistente de voz, já interagiu com alguma forma de IA, mesmo sem notar.
Atualmente, o que chamamos de IA envolve modelos de linguagem de larga escala (LLMs), redes neurais e ferramentas generativas treinadas com enormes volumes de dados.
Esses sistemas não “pensam” nem “entendem” — apenas reconhecem padrões e preveem a próxima palavra, imagem ou som com base em probabilidades.
Como destaca a revista Nature Machine Intelligence, ferramentas como o ChatGPT podem parecer confiáveis, mas ainda cometem erros conceituais e factuais porque não têm experiências reais.
Elas apenas modelam a linguagem humana — ou seja, são boas em parecer inteligentes, mas não possuem compreensão de mundo nem consciência.
Modem: o que ele realmente faz
O termo modem vem de “modulador-demodulador” — uma tecnologia essencial que permite a conversão de sinais digitais (vindos do seu computador) em sinais analógicos, capazes de trafegar por linhas telefônicas, cabos coaxiais ou redes ópticas, e vice-versa.
Em outras palavras, o modem é o ponto de entrada da internet em sua casa ou empresa. Ele conecta sua rede doméstica à infraestrutura do provedor de internet (ISP).
Muitos usuários confundem o modem com o roteador, mas esses equipamentos têm funções distintas.
O modem conecta você à internet externa, enquanto o roteador distribui essa conexão para vários dispositivos dentro da rede local, seja via Wi-Fi ou cabo. Em setups modernos, esses dois dispositivos muitas vezes estão integrados em um único aparelho — o que torna comum o uso incorreto dos termos.
Por isso, quando se diz “reinicie o modem”, você está reestabelecendo sua comunicação com a internet.
Já reiniciar o roteador geralmente afeta apenas sua rede local. Além disso, operadoras costumam usar outros nomes técnicos como Dispositivo de Terminação de Rede para o modem, o que pode gerar ainda mais confusão entre os usuários.
Memória: nem tudo que armazena é memória
Um dos erros mais comuns ao falar sobre tecnologia é confundir memória com armazenamento. Ao dizer que um celular tem “muita memória” porque possui 128 GB de espaço, estamos, na verdade, nos referindo ao armazenamento interno, e não à memória real no sentido técnico.
Na informática, o termo memória se aplica corretamente a componentes como a RAM (Memória de Acesso Aleatório), responsável por guardar temporariamente dados que o sistema e os aplicativos estão usando no momento. Essa memória é volátil, ou seja, perde todas as informações quando o dispositivo é desligado. Sua principal vantagem é a velocidade, sendo muito mais rápida que o armazenamento tradicional (como SSDs ou HDs).
Já a VRAM (Memória de Vídeo) é uma forma especializada de RAM, usada exclusivamente por placas de vídeo para processar gráficos e imagens em alta resolução, especialmente em jogos ou softwares de edição.
Entender essa diferença é fundamental para tomar decisões informadas na hora de comprar ou atualizar um computador, smartphone ou console. Afinal, armazenamento guarda, memória trabalha — e quanto mais rápida for essa “memória de trabalho”, melhor será a performance geral do seu dispositivo.
Linux ou GNU/Linux: qual o termo correto?
A maioria das pessoas se refere a sistemas como Ubuntu, Debian ou Fedora simplesmente como “Linux”. No entanto, especialistas e defensores do software livre alertam: o nome mais tecnicamente preciso seria GNU/Linux.
Isso porque essas distribuições combinam o kernel Linux, criado por Linus Torvalds, com diversas ferramentas desenvolvidas no projeto GNU, liderado por Richard Stallman desde 1983.
O GNU foi concebido como um sistema operacional 100% livre, mas seu desenvolvimento encontrou obstáculos, especialmente na criação de seu próprio kernel.
Quando o kernel Linux foi lançado em 1991, ele se encaixou perfeitamente nas demais ferramentas GNU, dando origem ao que conhecemos hoje como “Linux”. No entanto, Linux, tecnicamente, é apenas o núcleo do sistema.
Por esse motivo, nomes como GNU/Linux, LiGNUx e até Linux/GNU/X foram propostos ao longo dos anos, principalmente para reconhecer o papel central do software livre na formação desses sistemas.
Distribuições modernas que utilizam ferramentas do projeto GNU — como Ubuntu ou Fedora — seriam melhor classificadas como GNU/Linux, enquanto Android, por exemplo, que não usa componentes GNU, não se encaixa nessa definição.
Apesar disso, a simplicidade do nome “Linux” acabou vencendo, sendo adotada amplamente por desenvolvedores, usuários e até pela mídia.
Alguns veem o debate como uma questão de precisão histórica; outros, como uma disputa semântica desnecessária. No fim, usar “Linux” ou “GNU/Linux” ainda é, para muitos, uma escolha de ideologia, tradição ou praticidade.
“Entrar na internet”: expressão tecnicamente imprecisa
No Brasil, é muito comum ouvirmos a frase “vou entrar na internet”, como se a rede mundial fosse um ambiente físico acessado por uma porta digital. Embora a expressão seja prática e amplamente compreendida, do ponto de vista técnico, ela não representa exatamente o que acontece.
A internet não é um local a ser “entrado”, mas sim uma vasta infraestrutura de comunicação digital, composta por redes interconectadas que trocam informações por meio de protocolos como o TCP/IP.
Quando você conecta um dispositivo — seja via cabo ou Wi-Fi — a essa rede global, o que ocorre é a estabelecimento de uma conexão com servidores e serviços online, e não uma entrada literal em algum “lugar”.
Frases como “ligar a internet”, “entrar na internet” ou “a internet caiu” carregam esse uso coloquial.
Apesar de funcionais no cotidiano, compreender o real funcionamento da rede pode ajudar usuários a lidar melhor com falhas de conexão, distinguir entre problemas de roteador, modem ou servidor, e até escolher planos de dados com mais consciência.
A internet, tecnicamente, está sempre “lá fora” — o que fazemos é nos conectar a ela.
E você, conhece algum termo em tecnologia que é usado de de forma errada ou imprecisa?
A tecnologia evolui rápido, e é natural que a linguagem acompanhe esse ritmo de maneira mais informal.
Termos como “memória”, “Wi-Fi” ou até “hackeado” muitas vezes ganham novos significados no uso popular, mas entender seu sentido original pode evitar confusões — principalmente na hora de resolver problemas técnicos ou fazer compras mais informadas.
Que tal agora você participar também?
Existe algum termo tecnológico que você sempre teve dúvida se está usando corretamente? Ou já ouviu alguém dizendo algo que parecia estranho tecnicamente? Envie sua sugestão nos comentários ou no Fórum (Base de Conhecimento)!
Vamos enriquecer esse glossário juntos e ajudar mais pessoas a se comunicar melhor no mundo digital. Afinal, falar sobre tecnologia com precisão também é uma forma de inclusão.