No campo da Inteligência Artificial, poucos autores são tão respeitados quanto Stuart Russell e Peter Norvig, autores do livro referência Artificial Intelligence: A Modern Approach.
Essa obra, amplamente adotada por universidades no mundo todo, propõe uma classificação fundamental para entender os diferentes focos e abordagens da IA: os quatro tipos de IA, definidos pelo cruzamento de dois eixos:
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Pensar vs. Agir
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Humano vs. Racional
Essas categorias ajudam a compreender desde as primeiras ideias sobre máquinas pensantes até os agentes autônomos mais avançados.
A seguir, exploraremos cada uma dessas abordagens de forma clara e acessível.
O que é um agente de IA, segundo Russell e Norvig?
Russell e Norvig definem IA como o estudo de agentes computacionais. Esses agentes:
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Agem de forma autônoma
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Percebem e interagem com seu ambiente
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Persistem ao longo do tempo
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Adaptam-se a mudanças
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Perseguem objetivos
Essa definição serve de base para a construção das categorias de IA que veremos a seguir.
As 4 Categorias de IA
1. Pensar Humanamente
Essa abordagem busca modelar os processos mentais humanos, baseando-se em áreas como:
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Psicologia
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Filosofia
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Linguística
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Antropologia
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Neurociência
Objetivo:
Replicar como os humanos raciocinam, memorizam e aprendem.
Exemplo prático:
Sistemas que tentam imitar o funcionamento do cérebro, como redes neurais inspiradas no córtex cerebral.
Desafio:
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O pensamento humano é complexo, inconsistente e emocional.
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Reproduzir isso em uma máquina exige modelos cognitivos detalhados e multidisciplinares.
2. Pensar Racionalmente
Também conhecida como a abordagem das “leis do pensamento”, ela usa:
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Lógica formal e matemática
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Sistemas simbólicos (ex: lógica proposicional e lógica de predicados)
Objetivo:
Criar máquinas que raciocinem de forma lógica e coerente, como se seguissem regras universais de pensamento.
Exemplo prático:
Sistemas especialistas que seguem regras lógicas para tomar decisões, como diagnósticos médicos baseados em evidências.
Desafios:
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O pensamento humano raramente é 100% lógico
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Contradições e incertezas são comuns no mundo real
3. Agir Humanamente
Inspirada no Teste de Turing, proposto por Alan Turing, essa abordagem foca no comportamento externo da IA.
Objetivo:
Fazer com que uma máquina aja de maneira indistinguível de um ser humano, principalmente na comunicação.
Exemplo prático:
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Assistentes virtuais como Alexa, Siri e ChatGPT
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Robôs de conversação (chatbots) em atendimento ao cliente
Características esperadas:
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Processamento de linguagem natural
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Raciocínio
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Aprendizado
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Capacidade de percepção e interação
4. Agir Racionalmente
Essa é a abordagem defendida pelos próprios Russell e Norvig como a mais abrangente e eficaz para o avanço da IA.
Objetivo:
Construir agentes capazes de agir da melhor forma possível para atingir um objetivo, com base em informações e contexto disponíveis.
Conceito-chave:
Um agente racional é aquele que age corretamente, considerando a situação em que se encontra.
Exemplo prático:
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Carros autônomos que avaliam o trânsito em tempo real
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Algoritmos de recomendação (Netflix, Spotify) que ajustam sugestões conforme o comportamento do usuário
Vantagens:
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Incorpora pensamento racional
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É flexível, adaptando-se a diferentes contextos
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Considera decisões sob incerteza, algo essencial no mundo real
Comparando as Abordagens
Categoria | Foco Principal | Exemplo Real |
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Pensar Humanamente | Reproduzir o raciocínio humano | Modelos cognitivos, neuroIA |
Pensar Racionalmente | Lógica formal | Sistemas especialistas |
Agir Humanamente | Comportamento humano | Chatbots, assistentes virtuais |
Agir Racionalmente | Eficiência de ação | Carros autônomos, agentes adaptativos |
Por que essa classificação ainda é relevante?
A separação feita por Russell e Norvig ajuda a:
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Entender as raízes filosóficas e científicas da IA
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Identificar os desafios técnicos e éticos em cada abordagem
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Guiar o desenvolvimento de sistemas mais seguros, eficazes e úteis
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Planejar a formação de profissionais em IA, destacando áreas como cognição, lógica, comportamento e ética
As quatro abordagens da Inteligência Artificial — pensar humanamente, pensar racionalmente, agir humanamente e agir racionalmente — oferecem uma estrutura conceitual valiosa para navegar no vasto campo da IA.
Cada uma delas reflete preocupações distintas sobre como construir máquinas inteligentes e qual tipo de inteligência queremos replicar: a que imita o ser humano, ou a que alcança o melhor resultado possível.
Entender essas categorias não apenas enriquece nosso conhecimento teórico, mas também nos ajuda a compreender as decisões tecnológicas, sociais e éticas envolvidas na criação de sistemas de IA.