empregos que ainda não existem Como se preparar para empregos que ainda não existem?

Pode parecer impossível ensinar para o futuro quando nem sabemos ao certo quais empregos vão existir. Mas essa incerteza não é novidade.

Já passamos por revoluções assim antes.


Pense só: quem, há 30 anos, imaginaria profissões como gerente de redes sociais, motorista de app ou piloto de drone?


A tecnologia, junto de mudanças sociais e ambientais — como urbanização e escassez de recursos — reinventou o mercado de trabalho. E continuará fazendo isso.


Muitas de nossas crianças de hoje vão trabalhar em empregos que ainda nem foram inventados. Alguns sequer imaginados. E terão que se ajustar profissionalmente várias vezes durante a vida. No futuro não haverá esse negócio de trabalhar 20 anos fazendo a mesma coisa.


Segundo um levantamento da CareerBuilder, atualmente, quase metade dos gerentes de RH relataram dificuldade em preencher vagas por falta de candidatos qualificados.

Isso evidencia um impasse: a lacuna de competências técnicas e humanas.

Independentemente se o problema está nos profissionais ou nas exigências fora da realidade de algumas empresas, uma pergunta essencial se impõe: como preparar nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos em transição — para atuar em funções que ainda nem existem?

No que a educação precisa mudar?

Apesar de parecer uma urgência dos tempos modernos, o dilema de como alinhar educação e mercado de trabalho não é tão novo assim.

Segundo Ansley Erickson, historiadora da Universidade Columbia, já estamos debatendo essa relação há mais de um século — e seguimos sem uma resposta definitiva.

O que mudou, de fato, é a velocidade da transformação. A inteligência artificial e a automação estão remodelando profissões, rotinas e expectativas.

Para Jeanne Meister, especialista em tendências do trabalho e autora de The Future Workplace Experience, é indispensável que profissionais entendam como essas tecnologias vão impactar suas funções — o problema é que a maioria ainda nem começou essa conversa.

Um estudo do Workforce Institute mostra que 58% das empresas no mundo sequer discutiram os efeitos da IA com suas equipes.

E isso nos mostra algo preocupante: não basta inserir tecnologia no discurso, é preciso reformular toda a estrutura da educação.

Farnam Jahanian, da Universidade Carnegie Mellon, aponta que só vamos preparar pessoas para um mercado em constante reinvenção se olharmos para além das ferramentas digitais.


Questões como acesso, inclusão e a capacidade espontânea de aprender continuamente são centrais nessa virada.


Philip Powell, da Kelley School of Business, reforça essa mudança de paradigma: não se trata mais de formar um profissional para um cargo fixo para toda vida.

Hoje e no futuro, o diferencial é ser versátil, saber aprender, desaprender e reaprender.

Dominar a teoria e a prática

Preparar jovens para carreiras em constante mutação exige mais do que atualizar conteúdos.Exige uma mudança completa de mentalidade.

Para Farnam Jahanian, da Carnegie Mellon, a educação precisa ir além da lógica transacional — onde se aprende algo apenas para “passar de fase”. É hora de transformar o ensino em uma jornada contínua, com foco em habilidades digitais, pensamento crítico e, claro, colaboração.

A formação precisa integrar ciência, matemática, programação e, ao mesmo tempo, dar atenção às chamadas “soft skills”: comunicação, decisão, empatia.

A receita? Misturar disciplinas e colocar os alunos para viver o aprendizado.

Isabelle Bajeux-Besnainou, da Universidade McGill, defende um modelo baseado em experiências reais, aliado à educação interdisciplinar. Afinal, como ensinar habilidades que ainda nem foram inventadas?


A solução é clara: formar pessoas capazes de se adaptar — aprendizes para a vida toda.


Na prática, McGill já aplica essa filosofia. Programas como a Escola de Gestão de Varejo Bensadoun colocam os alunos em contato direto com tecnologias de ponta e desafios reais do mercado. Há ainda iniciativas onde estudantes de finanças gerenciam fundos reais, investindo recursos doados por ex-alunos.

Esse tipo de formação desenvolve competências práticas, estimula o raciocínio estratégico e, de quebra, promove a convivência com diferentes culturas — o que é essencial em um mundo cada vez mais conectado e globalizado.

Pense diferente: educação e trabalho precisam se encontrar

Na era da inteligência artificial, preparar-se para o futuro vai muito além de decorar fórmulas ou dominar softwares.


Na Universidade de Indiana, por exemplo, o velho modelo de estágio está sendo deixado para trás.

Em seu lugar, surgem projetos reais de consultoria, onde os alunos da Kelley School of Business atuam como solucionadores de problemas de verdade — com supervisão, trabalho em equipe e orientação profissional.

O resultado? A sala de aula se funde ao mundo corporativo.


Esses projetos desenvolvem não só competências técnicas, mas também habilidades adjacentes, como saber lidar com diferentes tecnologias e compreender a lógica de outras áreas. Philip Powell, da universidade, resume bem: “Estamos trazendo a empresa para dentro da sala de aula”.

Para dar conta da velocidade com que os mercados mudam, é preciso uma aproximação mais estratégica entre universidades e empresas.

Para Jeanne Meister, isso inclui rever os currículos com base nas reais necessidades do mercado. Isso exige conexão, diálogo e, acima de tudo, flexibilidade.

Mas nem tudo é técnica. Ansley Erickson lembra que a educação tem um papel mais profundo: formar cidadãos conscientes.

Afinal, como preparar um jovem para discutir temas como salário digno, práticas de trabalho justas ou inclusão em ambientes desiguais?

A formação profissional precisa andar lado a lado com o preparo ético e social.

Focar apenas nas “hard skills” pode parecer mais confortável, mas o mundo exige muito mais: pensamento crítico, sensibilidade social e capacidade de adaptação. Esse é o verdadeiro combo do sucesso para os empregos que ainda nem existem.

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